Ao ler os aforismos de O dia e a noite, Roberto Bola o não hesitou: este é um livro precioso . Redigidos ao longo de décadas e publicados depois da Segunda Guerra Mundial, os pensamentos de Georges Braque (1882-1963) são fruto de uma lenta decantação verbal de sua experiência humana e artística. Pois Braque, nome central da pintura moderna, parceiro de Picasso na aventura do cubismo, artista fértil e longevo, foi também homem de letras. Próximo de grandes poetas como Pierre Reverdy e René Char, leitor patente da longa tradição francesa das máximas e sentenças, o pintor é capaz tanto de formulações oraculares ( Sensação, revelação ou O perpétuo e seu sussurro de nascente ) como de apontamentos sibilinos ( O conformismo começa pela defi nição ou As provas exaurem a verdade ). Mas o leitor não encontrará aqui um corpo organizado de doutrina, pois o essencial para Braque é ter sempre duas ideias, uma para destruir a outra e, com isso, estar à altura do mandamento máximo para a vida e para a criação: manter a cabeça livre: estar presente . Atingido esse estado, extintas todas as veleidades , nós talvez percebamos que tudo é sono ao nosso redor e que a realidade só se revela quando iluminada por um raio poético . Texto em apêndice de Brassaï