Entre as divindades cultuadas pelas religiões afro-brasileiras, nenhuma tem provocado tanta polêmica quanto Exu. Por se tratar de uma entidade associada à sexualidade e à fertilidade, seu culto de origem africana, quando descoberto pelos europeus séculos atrás, foi alvo de preconceitos e mal-entendidos. Sua demonização foi inevitável, tanto na África quanto nas Américas para onde seu culto foi trazido, preservado e transformado pelas comunidades africanas e seus descendentes, num diálogo intenso com a colonização católica e as práticas indígenas locais. Exu é um livro um pouco diferente dos títulos publicados anteriormente pela Pallas Editora na Coleção Orixás. Ele não trata de detalhes de culto visto de dentro , de listas de correspondências simbólicas ou de outras informações desse teor, mas discute o significado e o processo por meio do qual se configurou a entidade hoje cultuada nas diversas religiões afro-brasileiras. Fala de seus mitos, do seu papel no panteão africano e brasileiro, de suas relações com o cotidiano do povo. Incompreendido quando veem nele apenas um arauto do mal, sob a ótica das religiões que professam dicotomias maniqueístas (bem e mal), Exu soube dar a volta por cima e mostrar seu poder de inversão ao difundir a possibilidade de também fazer o bem, ainda que sob a capa preta ou usando nomes associados aos chamados demônios judaico-cristãos. Nesse sentido, expressa seu poder de negociação e de interligação entre mundos sociais e religiosos inicialmente distantes, mas que se tocam por força da história.